Regeneração da floresta ocorre de forma natural; nas cidades, sociedade conhece a importância das matas

Os cientistas envolvidos com o dia a dia das florestas, que estudam a fundo as interações ecológicas entre centenas de espécies, conhecem várias peças do quebra cabeça que revelam a resiliência de biomas como Amazônia e Mata Atlântica, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.

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De acordo com José Tadeu Arantes, em reportagem para a Agência FAPESP, em um intervalo de 32 anos, de 1998 a 2020, houve perda de uma área florestada de 457.474 km2, bem maior do que toda a Itália. A novidade, entretanto, é que 120 mil quilômetros quadrados foram regenerados de forma passiva e natural, apontando que, quando o homem não atrapalhar, a natureza faz o seu papel.

“Existem atualmente muitas áreas sob regeneração passiva na Amazônia. E, na região que estudamos, localizada no município de Paragominas, no estado do Pará, a floresta localizada em margens de riachos recuperou atributos estruturais [densidade de indivíduos e de dossel] a partir de 12 anos, enquanto a recuperação da área basal ocorreu em 18 anos”, disse à Agência FAPESP o pesquisador Felipe Rossetti de Paula, pós-doutorando da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP) e principal autor do estudo.

Os dados, que vão se acumulando, mostram uma série de caminhos. Se, de um lado, é importante preservar alguns ambientes florestais, como os riachos e as suas vegetações vizinhas, de outro, já se sabe que a regeneração natural não vai ocorrer em qualquer parte da floresta de forma natural. Nesse sentido, ações de reflorestamento são essenciais.

“A regeneração passiva possui um custo de implantação praticamente zero em comparação aos projetos de restauração convencionais, que necessitam de preparo, recuperação do solo, plantio de mudas e manejo da área para que as mudas não morram. Considerando a alta resiliência ainda presente na Amazônia, a chance de as florestas ripárias [as que ficam nas margens dos riachos] se recuperarem é muito grande”, explica Rossetti de Paula.

As conexões entre as descobertas científicas, que revelam a importância da manutenção da floresta em pé, e as percepções da sociedade em geral sobre a importância da preservação da Amazônia estão cada vez mais robustas. Pesquisa realizada a pedido do Instituto Clima e Sociedade e publicada no Poder 360 aponta que 76% dos entrevistados acreditam que a preservação da floresta deve ser uma prioridade para os candidatos à Presidência da República. Ao todo, 62% dizem que a chance de voto deles aumentaria caso o candidato apresentasse um plano para proteger a Amazônia. Em 2021, a pesquisa mostrou que eram 58% os que alterariam a escolha pelo mesmo motivo.

Além disso, há uma grande identificação com a Amazônia. Para 85% das pessoas ouvidas, ela faz parte da identidade nacional (11% discordam e 4% não sabem). Isso porque, para a maioria, proteger a floresta é uma questão de soberania (32%) e de geopolítica (23%). Há uma preocupação com a maneira como o Brasil é visto no exterior. Segundo a pesquisa, 41% dos entrevistados consideram muito importante a preservação da Amazônia, outros 25% acham mais ou menos importante, 12% dizem que é pouco importante e 9% avaliam que não tem importância.

“Quem assumir a Presidência precisará ver onde e como vai ser a exploração das riquezas. Pensar formas de incluir a própria população regional na definição das prioridades e das ações que são mais urgentes. E, no geral, precisa ser uma concepção de intervenção muito focada nessa questão da inclusão dos Povos Originários nas políticas públicas e de sustentabilidade”, afirmou Arleth Borges, professora associada do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão.

Outra pesquisa, divulgada pelo Valor, aponta que a chamada economia verde é considerada um caminho prioritário para o presente e o futuro do Brasil, embora, muitas vezes, esse conceito ainda esteja sendo desvirtuado por ações de greenwashing e por planos mais de marketing distantes da implementação efetiva de boas práticas de governança corporativa voltada às questões sociais e ambientais (conhecida como práticas de ESG, no mundo das corporações).Investimentos em energia solar e recuperação de margens de rios aparecem em alta entre os que responderam a enquete. Os dados da pesquisa serviram de apoio para o desenvolvimento do Plano Nordeste Potência, uma iniciativa do Centro Brasil no Clima, do Instituto ClimaInfo, do Fundo Casa, do Grupo Ambientalista da Bahia e do Instituto Clima e Sociedade (iCS), que foi lançado nesta semana. A energia eólica e solar, no Nordeste brasileiro, pode gerar dois milhões de empregos, como mostra esta reportagem de Daniela Chiaretti no Valor.


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