Balsas rondam os limites das áreas legalmente preservadas e despertam medo nas comunidades locais, assim como ainda ocorre no Vale do Javari

Há um mês das mortes de Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, não é apenas no Vale do Javari, que o medo contra as atividades ilegais como o garimpo está presente, informa a  Folha de S.Paulo. Nesta semana balsas garimpeiras desconhecidas começaram a rondar a região do Juruá, uma das mais protegidas da Amazônia, gerou medo e movimentação entre os moradores locais.

O grande risco, como informa a repórter Nádia Pontes na DW, é a área se transformar em um novo polo de atividades ilegais.“É a primeira vez na história que uma balsa de garimpo adentra a região do rio Juruá”, comentou Manoel Cunha, morador e gestor da Reserva Extrativista do Baixo Juruá na Deutsche Welle. “É uma atividade ilegal aqui, estamos numa Unidade de Conservação. Temos que barrar essas balsas agora antes que a situação saia do controle”, afirma Cunha.

Tanto o Alto Juruá, quanto o Baixo Juruá, ambos no estado do Amazonas, a zeladoria das Áreas Protegidas vem sendo feita, inclusive, de forma organizada pelas pessoas da floresta. Um caso emblemático, como registrou o PlenaMata, é do seringueiro Manoel Cunha, que depois de décadas de luta virou servidor do ICMBio e gestor na Reserva Extrativista do Médio Juruá, no Amazonas, onde vivem 2,6 mil pessoas.

Preocupadas com as balsas avistadas nas águas do rio Andirá, o Fórum Território Médio Juruá (TMJ), instituição composta por 19 organizações públicas e privadas ali atuantes, protocolou nesta quarta-feira (29), uma denúncia da permanência de balsa e draga garimpeira na calha do rio Juruá e seus afluentes, que foi vista transitando pelos municípios de Carauari e Juruá.

O documento foi enviado para o Ministério Público Federal, Ministério Público do estado do Amazonas, Superintendência Regional da Polícia Federal no Amazonas, Secretaria do Estado do Meio Ambiente do Amazonas e para a Promotoria de Justiça de Carauari.

Na nota enviada às autoridades, as organizações manifestam “profunda preocupação e contrariedade” e destacam que as informações do avistamento de balsa e draga garimpeira na região foram repassadas por representantes de organizações extrativistas do município de Juruá e que a balsa foi avistada também nas proximidades da boca do Bacaba, município de Carauari, tendo se retirado há alguns dias, retornando ao município de Juruá. De acordo com as entidades, não existe registro de que as fronteiras das áreas de proteção estejam habilitadas para o garimpo. E mesmo que isso ocorra, no futuro, será uma temeridade para toda a região.

Como relata Fabio Pontes para o site Amazônia Real, na semana passada, indígenas que também vivem na região do Juruá interceptaram uma draga exatamente nas águas do rio Andaraí. Ouvido pelo jornalista, Djavan Katawxi, liderança da aldeia Lago Grande, disse que os integrantes da embarcação não foram hostis à abordagem e não mostraram resistência ao serem informados de que a região onde estavam era uma unidade de proteção federal, composta pela Floresta Nacional (FLONA) Tefé e Reserva Extrativista (RESEX) Baixo Juruá. A embarcação mudou sua rota depois do contato, mas teria ficado na região. Indícios mostram que esse tráfego de balsas e dragas por rios amazônicos podem ter autorizações veladas das autoridades locais, que sempre negam qualquer relação com atividades ilegais.

“Essa é uma situação muito preocupante para nós aqui do baixo Juruá. Essa é uma situação [a presença de garimpeiros] que nunca aconteceu em nossa região. Ninguém sabe como eles entraram no rio e quem deu essa autorização. Eles só falaram que tinham sido autorizados, mas não disseram por quem”, disse Djavan Katawxi, ao Amazônia Real.  Os Karawxi são os responsáveis pelos registros das imagens da draga e de um boletim de ocorrência por presença de garimpo em área da União.

Reportagem do g1, ao citar o caso desta semana das balsas do Juruá, lembra também a invasão de centenas de balsas no rio Madeira, em novembro do ano passado. Episódios recorrentes como esses revelam como os garimpeiros ilegais se sentem empoderados nos rios amazônicos, quando, muitas vezes, são apenas as comunidades locais, ribeirinhos e indígenas, que levantam as vozes contra essas invasões.


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