Em entrevista, o cientista Carlos Nobre se mostra preocupado com o ritmo de destruição da floresta, tanto no Brasil quanto nos países vizinhos

O cientista brasileiro Carlos Nobre, que acaba de ser eleito membro internacional da Royal Society, é um dos maiores conhecedores sobre a relação entre a Amazônia e as mudanças climáticas, e é enfático e direto em suas previsões: “Se a gente quer se salvar do risco de ecocídio climático do planeta, temos que manter o carbono na floresta”, explica em entrevista ao site da DW Brasil.

Ele aponta com preocupação o retrocesso, nos últimos três anos e meio, das ações de comando e controle do desmatamento no Brasil, e alerta para o avanço da destruição da floresta em países vizinhos, como na Colômbia. E, além do corte raso, Nobre alerta para outro problema, mais silencioso, e que também vem aumentando: a degradação por exploração madeireira e fogo, quando a floresta fica mais rarefeita e perde igualmente carbono para a atmosfera.

Nos últimos 15 anos, a área degradada foi igual a da área desmatada. “Na Amazônia como um todo – 6,5 milhões de quilômetros quadrados originalmente de floresta – já tivemos 18% desmatados e 17% degradados”, afirma o cientista. Esse processo ajuda a transformação da Amazônia em um ambiente mais seco e com uma biodiversidade bastante pobre, com consequências negativas para a população local e para o clima do planeta.

Para Nobre, a saída é manter a floresta, com meios de produção integrados. “O potencial econômico dos produtos florestais e sistemas agroflorestais é muito superior ao da agricultura. E nem se compara com madeira, até porque 80% da madeira é roubada, não entra no sistema econômico. O mesmo vale para o garimpo, que é ilegal, com roubo de ouro, que está na mão de poucas pessoas, na maior parte, associadas ao crime organizado”. Segundo Nobre, no sul do Amazonas, o ecossistema como um todo está “na beira do precipício”.

O cientista é copresidente do Painel Científico da Amazônia, grupo internacional de cientistas que lançou, no fim do ano passado, um relatório com dados e caminhos para o desenvolvimento sustentável da região.


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