Em cartaz no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, exposição apresenta a complexidade deste ecossistema único que abrange 60% do nosso território, mas ainda é desconhecido por muitos.

A divulgação para o público em geral sobre o que foi, é e será a Amazônia é estratégica para o país. Embora a Amazônia seja 60% do território nacional, muitos brasileiros não conhecem a complexidade deste ecossistema. A mostra do Museu do Amanhã no Rio de Janeiro, com o nome FRUTUROS Tempos Amazônicos”, é um primoroso trabalho de sintetizar o passado, presente e possíveis futuros deste ecossistema único em nosso planeta. Está aberta ao público até dia 12 de junho.

A mostra é dividida em 6 blocos contíguos e que interagem entre si: 1) Tempos amazônicos; 2) Amazônia milenar; 3) Amazônia secular; 4) Amazônia acelerada; 5) Amazônias possíveis e 6) Somos todos Amazônia. É uma viagem no imaginário das pessoas que habitam a Amazônia, mostrando que a floresta é muito mais que as 390 bilhões de árvores integradas em 9 países, com milhares de etnias indígenas, de línguas, muitas desconhecidas por nossa civilização. 

A sala “Amazônia milenar” ressalta a importância da diversidade de povos, línguas e culturas da floresta, constituída também por essas populações ao longo de milhares de anos. A da “Amazônia secular” mostra como os povos tradicionais não indígenas se estabeleceram na região, com suas culturas e singularidades. Hoje, os ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, seringueiros, pescadores e outros grupos vêm enfrentando os desafios sociais, econômicos e ambientais das mudanças climáticas e da rápida urbanização.

 A “Amazônia acelerada” revela as mudanças nas últimas décadas vista pelos satélites, com desmatamento e queimadas. Evidencia a degradação dos rios e igarapés, poluídos pela falta de saneamento básico ou com compostos tóxicos da mineração ilegal como mercúrio. Esta área da exposição “Fruturos” nos convida à reflexão sobre a necessidade de desacelerar a degradação e acelerar a demarcação de terras indígenas e de novas reservas ambientais. É tempo de regenerar a Amazônia. 

O bloco das “Amazônias possíveis” mostra que não há como se imaginar o futuro da América do Sul sem pensar no futuro da Amazônia. Conservar o bioma amazônico significa proteger os seus recursos naturais e usá-los de forma sustentável, garantindo a plena existência da floresta para as futuras gerações.

Para isso, temos que compreender e escutar os mais de 30 milhões de pessoas que vivem nas cidades, comunidades indígenas, quilombos, reservas extrativistas ou em palafitas à beira de rios, para podermos construir dinâmicas econômicas benéficas ao bioma tropical e à sua população. Por último, o bloco “Somos Todos Amazônia” explora a multiplicidade de culturas e expressões artísticas contemporâneas que atrai os olhares do Brasil e do mundo para a Amazônia.

Escutar a comunidade científica e o conhecimento tradicional dos povos indígenas é tudo o que precisamos para mudar o rumo da destruição deste belo ecossistema.

É fácil ver ao longo desta exposição o complexo funcionamento natural do ecossistema amazônico. A integração entre o comportamento biológico da floresta, o clima e seus múltiplos agentes de equilíbrio natural, desde as profundezas do solo, passando pela serapilheira da mata, o dossel das árvores e seu tronco – todos esses componentes têm um harmonioso equilíbrio, único entre os ecossistemas terrestres, e de uma beleza sem igual.

Da mesma maneira é muito bonito observar como a biodiversidade amazônica ajuda as diferentes espécies a se complementarem em seu papel de defender a integridade do ecossistema na sua totalidade. A mostra evidencia o quanto o sistema socioeconômico destrói este equilíbrio, em busca de riquezas, sem perceber que elas são muito mais limitadas do que as da floresta original, visando ao lucro desenfreado a curto prazo e para poucos. 

É possível reverter este quadro de destruição, e a ciência já tem as ferramentas para tal. Escutar a comunidade científica e o conhecimento tradicional dos povos indígenas é tudo o que precisamos para mudar o rumo da destruição deste belo ecossistema. Vamos pelo caminho de construir uma nova sociedade que respeite o frágil e bonito equilíbrio entre a floresta e o clima do qual todos nós dependemos.

Um caminho que respeite os direitos dos povos tradicionais, que não veja tudo com cifrões, mas enxergue a alma de nossos indígenas e considere a dependência que nosso planeta tem da Amazônia viva e íntegra. É importante ouvir as vozes da floresta para construir um futuro de oportunidades para as gerações que estão por vir.


Os artigos de opinião são de responsabilidade do seu autor.

Sobre o autor

Paulo Artaxo é professor do Instituto de Física da USP, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS), e é vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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