Em documento apresentado em Glasgow, governo brasileiro usou números sobre o desmatamento da Amazônia que são descolados da realidade
O governo brasileiro, por meio do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresentou dados “equivocados” sobre o desmatamento da Amazônia em Glasgow, na COP26, como revela a Folha. Os dados desatualizados, que constam em um gráfico inserido na versão revisada do Plano Nacional para o Controle do Desmatamento Ilegal e Recuperação da Vegetação Nativa 2020-2023, publicada em 28 de outubro, são baseados em projeções que previam queda de 5% no desmatamento de 2021, na comparação com 2020. O Plano é o anexo principal do documento oficial intitulado “Diretrizes para uma Estratégia Nacional para Neutralidade Climática”, apresentado na Conferência do Clima, em Glasgow, no dia 1º de novembro. Pelo gráfico, o desmatamento de 2021 teria sido de 10.308 km2, portanto, menor do que os 10.851 km2 registrados em 2020. A medição foi atribuída ao PRODES.
Na prática, entretanto, a história é outra. O governo escondeu os dados ruins e mais recentes do PRODES, que apontam aumento de 22% no desmatamento da Amazônia, com 13.235 km2 de floresta devastados entre julho de 2020 e agosto de 2021, na comparação com o período anterior — a pior marca desde 2006. Os dados mais recentes, que indicam o aumento de desmatamento, foram disponibilizados pelo INPE no dia 27 de outubro, enquanto o gráfico contendo os dados defasados que foram apresentados na COP foi publicado um dia depois (28). Enquanto os dados irreais foram exaltados pelo governo na COP, os dados atualizados ficaram bem escondidos até o final da Conferência, tendo sido apresentados ao público apenas no dia 18 de novembro (a COP acabou no dia 13). Credibilidade é algo que se conquista e é considerada premissa-chave em acordos multilaterais. Resta saber, na dança de números e narrativas, qual será o ritmo escolhido pelo governo para comprovar a redução do desmatamento ilegal até 2028, honrando o que prometeu na Escócia.
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