Gigantes do setor de grãos fizeram negócio com fazendeiros que lutam para expulsar criadores de gado tradicionais de terras no Cerrado
Levantamento inédito da ONG Global Witness divulgado pela Reuters mostra como conflitos de terra e eventual grilagem de áreas do Cerrado estão atrelados à cadeia mundial de commodities. Duas grandes empresas do setor compraram grãos de fazendeiros que lutam na Justiça desde 2007 para expulsar o povo que vive em Capão do Modesto, no município de Correntina/BA, uma região de cerrado. Os criadores de gado tradicionais afirmam que seus ascendentes viviam no local há 200 anos.
A reportagem identificou transferências de dinheiro da Cargill e da Archer-Daniels-Midland Co (ADM) para uma das empresas que está na ação que tenta desocupar o Capão do Modesto. Procurada, a Cargill admite ter feito a compra no passado, mas disse que, agora, não tem mais relação comercial com a empresa. Enquanto que a ADM explicou que fez uma investigação própria e não encontrou nenhuma irregularidade na posse das terras dos fornecedores.
Para a ONG que levantou o caso, “essas relações comerciais vinculam diretamente os comerciantes internacionais como contribuintes do abuso e da vitimização da comunidade do Capão do Modesto.”Para Valney Dias Rigonato, pesquisador de direitos fundiários da Universidade Federal do Oeste da Bahia, também ouvido pela Reuters, o caso ilustra como a crescente demanda por terras agrícolas no Brasil está pressionando a sobrevivência de comunidades tradicionais como a do Capão.
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