Redução do gás tem efeito rápido na redução da temperatura. Agricultura pode reduzir em 30% com melhoria das pastagens e uso de compostos orgânicos na alimentação bovina.

Uma importante proposta de resolução na COP26 foi anunciada esta semana: a redução de 30% nas emissões de metano (CH4) entre 2020 e 2030. Temos que esperar o texto da resolução final a ser formalmente aprovada pelos governos no final da cúpula, mas é relevante analisar esta resolução. Chamada de Global Methane Pledge, a proposta foi assinada por mais de 100 países, incluindo o Brasil, deve ser voluntária e não acarretar penalidades se os países signatários não cumprirem com suas obrigações.

O metano é um gás cerca de 25 a 86 vezes mais forte para fazer efeito estufa do que o CO2, molécula por molécula. A ampla gama de valores é causada pela meia vida curta do metano (12 anos) e em quanto tempo ocorre a sua integração ao Global Warming Potentital. Depois dos cortes na emissão de CO2, é fundamental reduzir também as emissões de metano, como recomendou o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

O metano é responsável por 0,5ºC de aquecimento, enquanto as emissões de CO2 aqueceram 0,8ºC. Devido à sua pequena meia vida atmosférica, qualquer redução nas emissões tem efeito muito rápido na redução da temperatura. O metano influencia no curto prazo, mas ao longo prazo quem domina é o CO2.

O metano é responsável por 0,5ºC de aquecimento. Devido à sua pequena meia vida atmosférica, qualquer redução nas emissões tem efeito muito rápido na redução da temperatura.

As três principais fontes de emissões de metano são a exploração de gás natural, as emissões da pecuária e os aterros sanitários. Na exploração de gás natural, as emissões estão associadas a vazamentos. Portanto, é fácil reduzir estes 30% reduzindo vazamentos, o que também fornece um ganho de produtividade na extração e processamento de gás natural. 

Na pecuária, o metano é emitido pela fermentação anaeróbica no rúmen do boi, em seu processo de digestão, o chamado “arroto do boi”. Nos aterros sanitários, a decomposição da matéria orgânica leva à produção de metano.

As três principais fontes de emissões de metano são a exploração de gás natural, as emissões da pecuária e os aterros sanitários.

E os impactos no Brasil? A pecuária pode facilmente reduzir suas emissões em pelo menos 30%, com duas medidas a serem implementadas. A primeira é na melhora da qualidade da pastagem, que pode reduzir emissões em cerca de 20%. A segunda é atuando diretamente na produção de metano no rúmen do boi, com aditivos que reduzem a sua produção. Algas marinhas e alguns compostos químicos estão sendo testados para isso, e os resultados são promissores. Portanto, espera-se que esta redução nas emissões não tenha impacto na produção de carne. 

É fundamental focar também na redução de emissões de CO2. Mesmo com forte redução nas emissões, o impacto da redução de emissões de metano pode ser no máximo 0,2ºC em 2050. As emissões de CO2 estão causando aumentos de 0,2 Celsius a cada década, portanto aquecerão o planeta em 0,6ºC adicionais até 2050. O metano ajuda, mas temos também que reduzir a emissão de CO2 rapidamente e de maneira muito forte, como recomendado pelo IPCC.


O físico e professor da USP Paulo Artaxo, membro do IPCC, está escrevendo sobre a COP26 especialmente para o PlenaMata, direto de Glasgow. Os artigos de opinião são de responsabilidade do seu autor.

Sobre o autor

Paulo Artaxo é professor do Instituto de Física da USP, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS), e é vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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