Já existem bons exemplos de turismo de natureza na Amazônia, como na região Nordeste do Pará. É uma forma de conhecermos a floresta para conservá-la.
Conservar para conhecer, conhecer para conservar. Independentemente do que venha primeiro, o fato é que o Brasil não conhece a Amazônia. Não só o Brasil, mas talvez o mundo inteiro a desconheça.
Se essa é a realidade, não há mais tempo a perder. É necessário e urgente que comecemos a refletir sobre como mudar esse cenário. De que forma podemos nos conectar com a Amazônia e criar laços fortes o suficiente para despertar o desejo sincero em conservá-la em pé?
Um dos caminhos é por meio do desenvolvimento do turismo na região, atividade esta que desempenha um importante papel neste contexto à medida que não só apresenta, mas cria vínculos interessantes quando feitos de forma efetiva.
O IBGE revela que 60% das viagens nacionais realizadas por brasileiros em 2019 tiveram como principal motivação o turismo de natureza, e esse percentual deve crescer ainda mais no período pós-pandemia.
A Amazônia abriga uma diversidade de aves magníficas, uma imensa variedade de peixes e infinitos rios de água doce, que ganham na preferência do pescador esportivo.
O turismo de observação de pássaros, por exemplo, movimenta mais recursos nos EUA se comparado com a exportação de soja pelo Brasil. O turismo de pesca esportiva consegue alcançar um número ainda maior.
Poderíamos continuar pelo turismo de base comunitária ou mesmo o micoturismo, o turismo de observação de fungos. Modalidades de turismo de natureza que fartam na nossa região de forma real e acolhedora. É claro que temos gargalos e dificuldades, mas as oportunidades são bem maiores do que eles.
Aproveitando, gostaria de trazer um dos bons exemplos que temos na região Nordeste do Pará. Como o caso de Hortência Osaqui, uma engenheira florestal que trabalhava em uma grande mineradora da região, mas que decidiu seguir os passos do pai que, solitariamente e com muito afinco, desenvolveu uma agrofloresta tendo o raro e cobiçado bacuri, a fruta conhecida pelo nome científico de platonia insignis, como carro-chefe.
De volta à terra, Hortência turbinou a Fazenda Bacuri. Atualmente, produz geleias, licores, desidratados de frutas colhidas da agrofloresta, tudo com certificação orgânica USDA Organic IBD, além do selo de produto proveniente da Agricultura Familiar e S.I.F.
Hortência observou que, além dos produtos, as pessoas tinham vontade de conhecer a fábrica, a região, as histórias, as pessoas. Viver um pouco da Amazônia de verdade. Surgiu então um novo projeto: a Rota Turística Amazônia Atlântica. Trata-se de uma vivência pela região de Bragança e Augusto Corrêa, através da história de seis empreendedores e todo seu potencial cênico e humano.
A rota inclui o Recanto dos Igarapés (queijos artesanais), Fazenda Bacuri (manejo, agrofloresta e produção orgânica de frutos), Sítio do Castanha (produção de farinha artesanal), Rancho Terminal (pesca artesanal), Fazenda Marinha (ostreicultura e gastronomia) e Hotel Rural Umarajó.
O passeio inclui, é claro, tours na cidade histórica de Bragança, observação de revoadas de pássaros, micoturismo, passeios por mangues e outras atrações.
O legado desse trabalho traz uma reflexão importante: Hortência entendeu que a oportunidade (estudo e profissão) que ela teve não está disponível para todos. Por isso, compartilha o que sabe e é capaz de fazer numa operação de ganha x ganha, que faz a diferença na região. Sua iniciativa leva aos turistas o senso de pertencimento e a empatia pelos amazônidas através de uma experiência real e reveladora.
Uma comunidade amazônica bem articulada também pode se transformar um destino encantador e digno de fotos de cabeceira e posts no Instagram com pouco mais do que boa vontade e tempo.