Corpo humano não será capaz de se adaptar fisiologicamente se o aumento da temperatura subir muito

Caso o desmatamento da floresta amazônica e as mudanças climáticas continuem no ritmo atual, as temperaturas mais altas poderão ser fisiologicamente intoleráveis ao corpo humano. Existe um limite de desmatamento da Amazônia que impactará a sobrevivência da espécie humana e o calor afetará de forma intensa regiões onde vivem populações altamente vulneráveis. O efeito sobre a saúde humana será extremo e deixará, até 2100, mais de 11 milhões de pessoas da região norte do Brasil sob risco de extremo térmico, quando o corpo humano não será capaz de se adaptar fisiologicamente às mudanças.

As conclusões estão no estudo Desmatamento e mudanças climáticas projetam aumento do risco de estresse térmico na Amazônia Brasileira, feito por pesquisadores da Fiocruz, do INPE e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP). É a primeira vez que os impactos do desmatamento e das mudanças climáticas são unidos e analisados em termos da saúde humana. A pesquisa foi publicada na revista Communications Earth & Environment, do grupo Nature.

“Os efeitos locais das mudanças do uso da terra estão diretamente ligados às políticas e estratégias de sustentabilidade das florestas, e as mudanças nessas áreas estão ao alcance da sociedade”, afirma Beatriz Oliveira, da Fiocruz Piauí.

A exposição ao calor extremo e à umidade pode ocasionar desidratação e exaustão, mudanças no humor, distúrbios mentais e redução do desempenho físico. Em casos mais graves, pode levar à morte. “Precisamos entender globalmente que, se o desmatamento continuar nas proporções atuais, os efeitos serão dramáticos para a civilização. Essas descobertas têm sérias implicações econômicas que vão além dos danos às lavouras de soja”, diz Paulo Nobre, do INPE.

A savanização da Amazônia, com incêndios florestais, expansão das áreas agrícolas e mineração, levam a uma urbanização não planejada, sem infraestrutura sanitária básica. Os maiores impactos serão sentidos no norte do país. Vários setores da economia também serão afetados. O aumento de 1,5% na temperatura média global pode representar perda de 850 mil empregos de tempo integral até 2030, especialmente na agricultura e na construção civil. Isso já foi observado entre os cortadores de cana, dizem os pesquisadores.

Além disso, a savanização da Amazônia terá impactos também na regulação de chuvas no resto do país, como já se tem observado. Como a energia elétrica do Brasil vem predominantemente de hidrelétricas, o cenário é preocupante. “Uma usina com lago seco não produz nada de eletricidade”, afirma Nobre.

Agência Fiocruz e Folha de S. Paulo comentaram a pesquisa.


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