“Primeiro levam as toras de valor e depois colocam fogo uma, duas vezes para transformar a floresta em pasto”, diz Daniel Kaxinawá
Há alguns meses, a área estava coberta por árvores centenárias. Hoje, o descampado só abriga troncos chamuscados. É o local onde vivem indígenas Karipuna, em 153 mil hectares nos municípios de Porto Velho e Nova Mamoré, em Rondônia. A demarcação da terra indígena (TI) foi homologada em 1988, mas se tornou alvo cada vez maior de madeireiros e grileiros. “Primeiro levam as toras de valor e depois colocam fogo uma, duas vezes para transformar a floresta em pasto”, diz Daniel Kaxinawá. No final de agosto, a única ponte que dá acesso à TI foi incendiada.
Porto Velho é a capital brasileira da queimada, município recordista de incêndios na Amazônia. O INPE identificou 521 pontos de incêndio lá, entre janeiro e meados de agosto deste ano. Trata-se de uma nova fronteira agrícola. O rebanho bovino do estado, hoje com 14,3 milhões de cabeças, quase triplicou de 1999 a 2019. Rondônia tem a sexta maior boiada do país, segundo o IBGE.
A devastação na região amazônica tem sido uma das principais marcas do governo de Jair Bolsonaro na área ambiental, escreve Gil Alessi no El País. O estado de Rondônia, diz ele, “é um dos mais relevantes para o projeto do presidente Jair Bolsonaro na área ambiental, com desregulação e incentivo à exploração de terras protegidas via garimpo, agronegócio ou comércio de toras.” Os invasores são estimulados pelas ações e discurso do presidente. “Órgãos, como FUNAI e IBAMA, que nós tanto precisamos, foram enfraquecidos, principalmente na parte da fiscalização”, afirma o cacique André Karipuna.
A RESEX Jaci-Paraná foi delimitada como área de proteção, em 1996, para famílias de ribeirinhos. No entanto, foi logo invadida por grileiros e madeireiros. Em abril, a Assembleia Legislativa de Rondônia reduziu em 80% a área da reserva. Em visita à TI Karipuna, a equipe do El País presenciou vários pontos de queimada e ouviu os relatos de perseguições e abusos sofridos pelos moradores.
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