Josi Malheiros: liderança feminina na sociobiodiversidade
A Ilha das Cinzas, lar de cerca de 80 famílias, fica na foz do rio Amazonas, no Pará, perto da divisa com o Amapá.
Na ilha, vive-se principalmente da pesca e do extrativismo da castanha, patauá, murumuru, andiroba e ucuuba.
Josi Malheiros, secretária da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (ATAIC), vem de uma família de 10 irmãos, e deu duro para estudar.
Para chegar à escola, Josi precisava navegar por horas. Valeu a pena: concluiu a graduação em Gestão Ambiental.
Aos 16 anos, Josi começou a luta por melhorias na comunidade. Ajudou a fundar a ATAIC, em 2000.
Uma ONG do Rio de Janeiro deu o incentivo inicial para a comunidade perceber o grande valor dos recursos naturais e da floresta em pé.
“Recebi o apoio de grandes lideranças amazônidas, que me ensinaram muito e me fortaleceram”, diz Josi, que é também membro da Rede Amazônia Viva.
Josi conta que muitas vezes chegava em casa chorando por ter ouvido ofensas (a maioria de outras mulheres) pelo fato de conviver com muitos homens líderes comunitários e de sindicatos.
“Minha família sempre me deu força. Eu sentia que tinha de superar o dobro das dificuldades por ser mulher. Meu pai dizia: ‘Falaram isso, mas e daí? Você não é isso, então levante a cabeça e continue’.”
A ATAIC é o principal fornecedor de frutos e sementes oleaginosas do extrativismo sustentável para a Natura na região da Ilha de Marajó. Também vende produtos da floresta nas cidades do entorno.
Na pesca do camarão de água doce, que fornecem para Macapá, as famílias usam uma premiada solução de armadilha (matapi) sintética, que permite a captura apenas de animais adultos.
“Geramos renda para 80 famílias da ilha e outras 300 na região, trabalhando com produtos que eram tão abundantes que acabavam sendo desperdiçados.”
A ATAIC também busca conscientizar as pessoas a não cortarem a árvore da ucuuba para obter madeira. Ela tem mais valor de pé, pois pode-se vender seus frutos.
Josi quer que sua comunidade entenda a força da sociobioeconomia e de como a floresta em pé pode garantir renda hoje e no futuro.