Eduardo Neves, arqueólogo, fala sobre evidências indígenas de milhares de anos

AMAZÔNIA MILENAR

Especialista defende modo de vida semelhante ao dos povos tradicionais e critica a produção do agronegócio baseada na monocultura.

Como o modo de vida dos povos tradicionais pode ensinar a preservar a natureza?

Eduardo Neves, arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, propõe uma reflexão sobre a história dos povos indígenas da Amazônia brasileira para responder a essa pergunta.

Em seu trabalho, para poder trabalhar com essas questões, ele busca evidências das formas de vida: os padrões de alimentação e das relações com a natureza.

A gente trabalha na arqueologia amazônica com coisas como restos de plantas e de carvão, estruturas microscópicas que têm a ver com o uso das plantas, com ossos de animais que estão preservados nos sítios arqueológicos.

Um exemplo de evidência arqueológica desse modo de vida indígena que entra em simbiose com a floresta é a chamada “Terra Preta de Índio”.

Segundo Neves, são solos muito escuros e muito férteis. Eles têm uma coisa que é muito importante: estabilidade, ou seja, eles não perdem os nutrientes ao longo do tempo.

São solos formados pela atividade humana indígena no passado, e que começaram a se formar há mais ou menos uns cinco mil anos.

Eles são resultado de um processo (...) que está relacionado ao fato de que esses povos se tornaram mais sedentários e passaram a ficar mais tempo nos mesmos lugares: jogando e manejando o lixo orgânico, fazendo compostagem, e formando esse tipo de solo que é um legado importante pras populações contemporâneas.

Então, Neves contrasta o modo vida indígena com a perspectiva de exploração de uso do solo, com a produção de monocultura que enfraquece e tira a fertilidade da terra amazônica.

O agronegócio da monocultura está baseado no que? No controle absoluto, na padronização. São sistemas de cultivos totalitários de certa maneira, porque estão baseados na massificação. São pouquíssimas variedades que são plantadas.

Para Neves, o modo de produção dos povos tradicionais e o do agronegócio de monocultura são “são quase duas galáxias totalmente diferentes”.

Os nossos amigos, os nossos parceiros ribeirinhos, indígenas, eles valorizam muito, eles gostam da diferença pela diferença. Uma planta que às vezes não serve pra nada, o cara traz pra casa. Essa ideia de valorização da diferença é muito forte na Amazônia.

REPORTAGEM Fábio Zuker TEXTO E EDIÇÃO Carolina Dantas IMAGENS Luis Ushirobira / InfoAmazonia IDENTIDADE VISUAL Clara Borges Montagem  Luiza Toledo