Degradação silenciosa

CIÊNCIA

Estudo mostra que 38% da Amazônia sofre com algum tipo de degradação e, até 2050, o problema pode atingir 70% do bioma.

Um estudo estampou a capa da revista Science em janeiro. David Lapola, da Unicamp, é o principal autor do artigo e conversou com a InfoAmazonia.

O carbono emitido por essa degradação no período analisado, que foi de 2001 a 2018, é equivalente, senão maior, que o carbono emitido por desmatamento no mesmo período

- David Lapola

Ao contrário do desmatamento, que é a eliminação total da vegetação nativa numa determinada área, a degradação florestal é a eliminação parcial e gradual da vegetação.

Seca, fogo, efeito de borda e extração de madeira são os quatro fatores principais que levam à degradação.

A seca já atingiu 41% da cobertura restante da Amazônia. Influenciada pelas mudanças climáticas globais, ela é o fator mais difícil de combater.

Além disso, os estudos mostram que o fogo natural só ocorre na Amazônia a cada 500 anos, explica Lapola. Ou seja: todo fogo registrado nos últimos anos é provocado por atividade humana.

Há, ainda, a degradação por efeito de borda, que é a alteração causada por áreas limítrofes desmatadas. Depois que uma árvore é derrubada, os primeiros 100 ou 200 metros de floresta passam a receber luz direta, mais calor e mais vento.

Já a extração de madeira é a redução da área florestada para fins comerciais, um fator que leva à fragmentação do habitat das espécies amazônicas.

O estudo também apresenta de forma inédita projeções sobre como será a degradação futura da floresta, levando em conta os mesmos quatro fatores.

Com as emissões de carbono, resultantes da degradação associada ao desmatamento ocorrido até 2018 e do desmatamento estimado de 2019 a 2030, a Bacia Amazônica teria 51% de degradação de sua floresta até 2050 Com uma emissão total de 41 bilhões de toneladas de carbono.

Já em um cenário mais pessimista, mantendo as políticas e os índices de desmatamento atuais, a degradação poderá chegar a 70%. E as emissões de carbono, resultantes da degradação associada ao desmatamento ocorrido até 2018 e do desmatamento estimado até 2050, serão de 304 bilhões de toneladas.

REPORTAGEM Sibélia Zanon TEXTO E EDIÇÃO Carolina Dantas IMAGENS Fábio Bispo/InfoAmazonia; Nilmar Lage / Greenpeace; Christian Braga / Greenpeace; Flávio Forner / InfoAmazonia. IDENTIDADE VISUAL Clara Borges Montagem  Luiza Toledo