Os ganhos associados à proteção da Amazônia são tantos e tão variados que não faz sentido ambiental ou econômico destruir a floresta.
Proteger os mais de 3 milhões de hectares que restam da Floresta Amazônica brasileira pode não ser tarefa simples, mas é possível e vale a pena. Aliás, vale muito a pena, já que conservar a vegetação nativa na Amazônia traz inúmeros e variados benefícios. Alguns deles — como conservação da riquíssima biodiversidade amazônica, manutenção do equilíbrio ecossistêmico, garantia dos meios de vida de povos tradicionais e populações locais — são efeitos diretos da proteção florestal e, portanto, costumam ser mais conhecidos do público amplo. Falemos, então, dos que são menos conhecidos.
Manter a floresta em pé incentiva o desenvolvimento socioeconômico da região amazônica por duas principais vias. Primeiro, a destruição da floresta é alimentada por atividades predominantemente ilícitas e predatórias, então combater o desmatamento na Amazônia equivale a combater a ilegalidade e a corrupção. Além de o corte de vegetação nativa ser em sua esmagadora maioria ilegal, o desmatamento está associado a altos índices de violência no campo e à atuação de redes criminosas envolvidas em práticas como mineração ilegal, comércio ilegal de animais e plantas selvagens e tráfico de armas e drogas.
Ademais, a fragilidade dos direitos de propriedade na região agrava conflitos por terra e cria um contexto propício à ação de grileiros, que derrubam a floresta para se apropriarem de um bem público. Esse ambiente de ampla e enraizada ilegalidade mantém a região à margem de mercados formais e limita sua capacidade de atrair investimentos e boas instituições. Os custos produtivos e de bem-estar social implicados nisso são enormes.
Segundo, o desmatamento é impulsionado por atividades improdutivas e não pode ser justificado como uma condição necessária à produção econômica local. Pastos ocupam grande parte da área desmatada na Amazônia, mas há evidência de que a expansão desses pastos ocorre sob a forma de grilagem e não para fins produtivos. É consenso na academia e no setor produtivo que o valor da produção agropecuária na região amazônica pode aumentar através de ganhos de produtividade em áreas já abertas, não sendo preciso derrubar sequer mais uma árvore.
O potencial produtivo na Amazônia não se restringe, contudo, ao setor agropecuário. Há crescente expectativa em relação à capacidade de a biodiversidade amazônica ser uma forma de alavancar o posicionamento do Brasil em mercados globais de bioeconomia. Assim, a conservação da floresta representa uma oportunidade de avançar na adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a região.
A Amazônia contribui com o desenvolvimento socioeconômico também em escala nacional. A proteção da sua vegetação nativa é necessária para a manutenção de fatores biofísicos essenciais tanto para o bem-estar humano quanto para a produção em outras regiões do país, principalmente para os setores de agropecuária e energia. A Floresta Amazônica desempenha papel fundamental na regulação de ciclos hídricos, influenciando a estabilidade dos regimes de chuvas, contribuindo para a manutenção de um clima ameno e conferindo proteção contra eventos climáticos extremos. Perder a força reguladora da floresta implicaria um alto custo produtivo para o Brasil.
A proteção da Amazônia também é um instrumento-chave para a promoção do país em mercados globais que, cada vez mais, valorizam o cumprimento de normas e compromissos ambientais ao longo das cadeias produtivas. Não se trata de um nicho de mercado, mas de um amplo movimento por parte de investidores, empresas e consumidores. Produzir de forma ambientalmente responsável é sinônimo de aumentar a competitividade do produto brasileiro.A conservação da Amazônia é ainda uma forma de recuperar o protagonismo brasileiro no esforço global de mitigação das mudanças climáticas.
Florestas tropicais são enormes estoques de carbono, e o Brasil é o país que detém a maior área de vegetação nativa tropical no planeta. O que acontece na floresta importa, portanto, para a trajetória nacional de emissões de gases de efeito estufa. O desmatamento na Amazônia responde por quase 40% das emissões desde o ano 2000. O período marcado por queda acentuada e duradoura em emissões coincide com aquele de forte redução do desmatamento na Amazônia — a recente escalada na taxa de perda florestal já se reflete em um aumento nas emissões brasileiras.
A aceleração do processo de mudanças climáticas não é, contudo, a única ameaça global associada à perda de florestas tropicais. A interferência humana em habitats naturais afeta o risco de surgimento de zoonoses, doenças infecciosas transmitidas de animais para seres humanos. Zoonoses podem trazer custos devastadores, conforme evidenciado pela atual pandemia da covid-19. Nesse cenário, a conservação florestal serve como uma forma custo-efetiva para mitigar o risco de surgimento e agravamento de doenças em escala global.
Os ganhos associados à proteção da Amazônia são tantos e tão variados que simplesmente não faz sentido — ambiental, social, econômico, político, sanitário — para o Brasil assistir passivamente a destruição da floresta. Muito menos ser cúmplice disso. É imperativo que o país trate a proteção da Floresta Amazônica com a urgência necessária. O Brasil sabe o que tem que ser feito e tem plena capacidade de fazê-lo.
Para uma discussão mais detalhada dos benefícios abordados neste post e bibliografia associada, veja o relatório “Políticas Públicas para proteção da Floresta Amazônica: o que funciona e como Melhorar”.
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