Angela Mendes: a verdadeira riqueza está na floresta em pé

A ativista e filha de Chico Mendes defende o legado do pai e afirma que ‘há uma tentativa de apagar a história’ dele na Amazônia

FLORESTA EM PÉ

Há 34 anos, o seringueiro e ambientalista Chico Mendes era assassinado em Xapuri, no interior do Acre.

No entanto, depois de todos esses anos, os ideais do defensor da Amazônia seguem representados e lembrados pela filha mais velha, Angela.

Nascida no Seringal Cachoeira, em Xapuri, Angela atua para não deixar morrer o que seu pai trouxe de mais valioso ao mundo: a ideia de que a verdadeira riqueza está na floresta em pé.

As pessoas ainda não tomaram plena consciência de que o que ele falava já está acontecendo. A crise climática é um exemplo. Frente ao atual cenário político no Brasil, com ameaças ao meio ambiente e violência contra populações tradicionais, se faz cada vez mais necessário não só falar de Chico Mendes, mas agir de acordo com seus ideais.

Angela Mendes

Motivação é o que não falta para a ativista. Nos últimos anos, a floresta amazônica foi testada no seu limite e passou a viver um cenário tão complexo quanto o que Chico presenciou nos anos 70 e 80.

Em sua trajetória para manter vivo o legado do pai, ela atua como coordenadora do Comitê Chico Mendes, uma rede de articulação de ativistas e amigos do ex-seringueiro.

Debater justiça climática é importante porque passa por um conjunto de outros fatores, como o desmatamento, queimadas e emissões de gases do efeito estufa. A gente precisa que as pessoas entendam que as suas ações têm influência sobre isso.

Anualmente entre 15 e 22 de dezembro, aniversários de nascimento e morte do ambientalista, ela lidera a Semana Chico Mendes. O evento tem a missão de resgatar e propagar os ideais do patrono do meio ambiente.

Em 2020, durante encontro de lideranças tradicionais em aldeia no Xingu, Angela, cacique Raoni e Sonia Guajajara anunciaram a rearticulação da Aliança dos Povos da Floresta, idealizada por Chico Mendes e Ailton Krenak na década de 80, que uniu pela primeira vez indígenas e seringueiros contra os inimigos em comum.

Em entrevista ao PlenaMata, ela disse que há uma tentativa de apagar a história’ de Chico. Segundo ela, políticos do Acre, ligados ao agronegócio, deram início a uma cruzada para apagar a memória do seu pai.

Tudo o que tem acontecido com a Resex Chico Mendes está dentro desse contexto de apagamento histórico da luta do meu pai, porque o território tem todo um simbolismo ao levar o nome dele e ser a maior reserva do Acre. O PL 6024, que reduz os limites da reserva, entra nessa conta.

Ela diz, ainda, que a casa onde Chico foi assassinado “continua fechada, a ponto de cair”.

Em Xapuri, por exemplo, ninguém soube capitalizar essa história de resistência que nasce ali, do potencial que o município tem. Ao contrário, o povo da cidade tem raiva da gente.

REPORTAGEM Leandro Chaves EDIÇÃO Carolina Dantas FOTOS Ramon Aquim/InfoAmazonia; Arquivo: Dept. de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM/AC, Simone Giovine, Mídia Ninja. IDENTIDADE VISUAL Clara Borges Montagem  Luiza Toledo